Há uma extensa estrada a percorrer para que um filho se torne um homem e uma filha, uma mulher. Em Santa Maria, perdeu-se duplamente passado e futuro. É impossível não projetar: poderia ter sido conosco. Até quando?
Você dá à luz um filho, uma cópia aperfeiçoada de si mesma, obra-prima única de um amor que se tornou tangível. Você o amamenta com a sua seiva milagrosa, nutre de carinho, compreensão e pacientes ensinamentos. Tempera com risadas, troca de olhares, beijos. Embala nos balanços das pracinhas e em abraços eufóricos nas pequenas conquistas do dia a dia. Cúmplices, dão-se as mãos nas dificuldades, unha e carne. Aprendem juntos. Erram também. Perdoam-se. Ele é tão perfeito e cresce tão rápido!
Na escola da vida, o beabá do amor é você quem ensina. Seu filhote sabe ler e você a ele. Uma década de convivência torna possível falar sem palavras. E a árvore não para de encompridar. Agora ele quer sair sozinho com a turma, sonha com o primeiro carro e passou do pai no tamanho. Ela pede salto bem alto no baile de debutantes, vive aos cochichos com as amigas, suspira pelos cantos. E vêm as baladas, as noites de vigília, os namoros e você se enamora de cada fase. Quando precisa acompanha à distância, quando não precisa, também.
Finalmente, chega o vestibular. Orgulho da família, ele passa. A vida feito um filme, você repassa. E quando enfim seu trabalho está findo, o casulo aconchegante e protetor se rompe e a lagarta antes tão sua se liberta para seguir o próprio rumo, prestes a voar em revoada por ter se tornado a linda borboleta que você cultivou, eis que um incêndio no campo, um devastador ato de irresponsabilidade consome as flores, as raízes de tudo o que se plantou e regou com sacrifício e amor incondicional, queima o que antes era futuro, derrete a ordem natural das coisas e dissolve impiedosamente o seu coração.
Há uma extensa estrada a percorrer para que um filho se torne um homem e uma filha, uma mulher. Em Santa Maria, perdeu-se duplamente passado e futuro, o que foram e o que estavam prestes a se formar todos aqueles jovens. Filhos de suas mães, nossos também. É impossível não projetar: poderia ter sido conosco. E poderá ser se não lutarmos por mudanças. Se não exigirmos o cumprimento absoluto das normas de segurança nos estabelecimentos que frequentamos. Em cada minuto vive-se uma vida. Uma vida perde-se num minuto. Até quando?
Fonte: Internet